sexta-feira, outubro 21, 2005

retrato

NÃO terá ainda 50 anos. Mas na sua cara o tempo já deixou um rasto indisfarçável. Profundas e vincadas rugas golpeiam as faces de alto a baixo. A testa, tal como as faces, espelham uma velhice precoce.
Na última vez que o vi negociava a descida de um vão de escadas. Agarrado à parede, curvado sobre si, soltava gemidos cansados. Olhos tristes e vazios recusavam ver o lugar. Semicerrados. Apalpava a descida. No entretanto da hesitação, chupava sofregamente um cigarro, pedido pela careta que para essas ocasiões e naquelas circunstâncias sempre põe, dado e acendido por um qualquer.
Estava só. Como sempre.
A noite caía sobre a Vila e a casa que lhe dá guarida ainda estava longe. Lá, sabemo-lo, espera-o a indiferença e o infortúnio de uma vida que poucos merecem viver.
A valentia desde novo que lhe povoa a imaginação, mas o medo sempre foi mais forte.
No dia seguinte, não faltará ao trabalho. A fome far-lhe-á companhia e na bebida encontrará o alimento.
A Vila continuará a vê-lo passar.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

1:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Quem é?

5:22 da tarde  

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