terça-feira, abril 04, 2006

endogamia

O maior inimigo da Universidade Portuguesa chama-se endogamia. Endogamia significa pouca transparência e clareza. O termo utilizado por diversos avaliadores internacionais é o de inbreeding, um termo que, literalmente, significa consanguinidade. Quer dizer, protecção dos nossos apaniguados e amigos, mesmo que à custa dos direitos legítimos de outros. De forma não eufemista, endogamia significa corrupção. A palavra é dura, mas deve ser uma das mais apropriadas para a realidade do inbreeding que grassa na Universidade Portuguesa. Como disse, quando a vêm avaliar, os peritos estrangeiros sempre frisam esta triste realidade. Não deve ser, portanto, uma invenção minha.

Há muitos anos que estou na vida universitária e tenho constatado que nela há, de facto, muita endogamia. Os estudantes, porventura, não se apercebem muito dela. É uma questão de olhar. De olhar para a progressão dos professores na sua carreira; para os critérios em que ela se baseia; para a constituição de diversos júris de provas e concursos; e para muitas outras coisas. Reparem nesta pequena/grande diferença. Nas Universidades dos EUA e do Canadá, por exemplo, para ocupar um lugar permanente na Universidade, um professor é, em última instância, avaliado por uma comissão de que, além do dean, não faz parte nenhum professor do Departamento ou Faculdade a que a pessoa em avaliação pertence. A ideia é fazer com que a endogamia fique de fora, ou seja controlada, pelo menos. E a ideia é também mostrar a quem não é da mesma área ou departamento se o currículo em apreciação tem ou não algo de cientificamte interessante, algo que pode ser apreendido mesmo por quem está fora da área, departamento ou Faculdade.

Na minha Faculdade, por exemplo, há diversos concursos de cujos júris só fazem parte os pares da mesma área: da Psicologia ou das Ciências da Educação. Assim, os membros dos júris que podiam ser mais independentes não contam. Fica tudo mais em família! Se essa não é a intenção, esse é o seu resultado mais provável. Mas há outros exemplos de endogamia, exemplos que outros colegas de outras Faculdades não teriam certamente dificuldade em recordar.
Orlando Lourenço em www.educ.fc.ul.pt

Era-lhe familiar a situação descrita se mudasse «Universidade» e «Faculdade» por outros nomes?