segunda-feira, outubro 31, 2005

vida negra - portugal rural (II)

A negridão do país rural passa por indicadores como este: a taxa de analfabetismo no concelho de Avis era em 2001 na ordem dos 20%. Portugal tinha nessa altura qualquer coisa como 9%. E no Alentejo aquela taxa era de 16%.
Avis ficava a 11% de distância de Portugal. Para superar esse fosso de 11% era preciso que mais de 500 pessoas do concelho iniciassem um processo de alfabetização.
Infelizmente isso não aconteceu!

sábado, outubro 29, 2005

passeio abandonado

O jardim mais antigo de Avis está votado ao abandono há mais de duas décadas.
Não se compreende que em pleno coração da vila, verdadeiro miradouro com vistas largas para a parte baixa da vila, esteja tanto tempo num estado degradante.
O tão badalado centro histórico começa e acaba ali.
Menos se compreende que se arranjem outros espaços, se anunciem melhorias noutros e aquele que tem o nome de Mestre fique para as calendas gregas.
Por ali não passam responsáveis camarários. Nenhum deles é filho da terra, e um enteado é sempre fruto de uma segunda escolha.

quinta-feira, outubro 27, 2005

presidente e presidentes

A área política da direita tem ultimamente, a propósito das próximas eleições presidenciais, nas quais deposita a esperança de eleger o «seu» presidente – leia-se Cavaco Silva -, chamado a atenção para a necessidade de proceder a algumas alterações aos actuais poderes presidenciais.
Dos escritos e ditos a esse propósito, pode-se inferir que as alterações a introduzir na Constituição, deslocariam o nosso sistema político semipresidencialista para um sistema presidencialista, ou muito próximo disso.
A esquerda, à primeira vista, parece não querer ir por aí. Contudo, se este assunto for suficiente e acerrimamente explorado pelos seus defensores, nada nos garante que a ideia não venha a ganhar jeito!
Afinal não chegaram a acordo quanto ao sistema presidencialista autárquico?
O que antes era uma gestão colegial, reconhecidamente virtuosa e profundamente democrática, passou a ser um poder fundamentalmente presidencial e unipessoal, onde os vereadores não passam de “ajudantes” e a câmara municipal, em substância, pouco mais tem do que ratificar as decisões presidenciais. Não deixou de ser democrático, mas perdeu em virtuosismo outrora unanimemente reconhecido.
Por acaso, foram tornadas públicas e discutidas juntamente com os interessados directos, as razões que determinaram o esvaziamento de competências daquele órgão colegial? Não!
Ora isso não impediu a criação do órgão “presidente da câmara”, cujo vasto leque de competências próprias foi retirado à “câmara municipal”.
Nem de propósito, é só reparar nas principais fotografias impressas na propaganda das últimas autárquicas?
Por isso, num país onde a estabilidade jurídica é precária, fazendo-se e desfazendo-se leis por tudo e por nada, não nos admiraremos que num futuro não muito longínquo não tenhamos mais uma revisão constitucional, elaborada nos gabinestes de S. Bento, a pretexto, única e exclusivamente, do reforço dos poderes presidenciais.
Se tal vier a acontecer será porque o regime semipresidencialista não serve?

terça-feira, outubro 25, 2005

afinal em que ficamos?

O Poder Central quer reduzir funcionários. Quer alienar prédios, rústicos e urbanos, e outros bens patrimoniais, suspende aquisições, avalia investimentos.
Quer reduzir a todo o custo a despesa do Estado.
O Poder Local (pelo menos em Avis, mas não apenas aí) aumenta exponencialmente o número de funcionários. Compra prédios atrás de prédios, viaturas sofisticadas e maquinaria pesada. Estará certamente a aumentar a despesa.
Assim não nos entendemos: Afinal, é para poupar ou é para gastar?!
O Estado é só um, mas acções são dispares. Afinal quem terá razão?
Como devem as autoridades empregar o dinheiro dos portugueses?: reduzindo os gastos porque a economia (portuguesa e europeia) já está para lá da crista (o ciclo longo de Kondratieff desenvolve-se entre 50 a 60 anos, tendo dois picos ou cristas, de início e fim do ciclo), ou aumentando-os para incentivar os agentes económicos?
Uma coisa é certa, e disso parece ninguém ter dúvidas, os impostos estão a subir. Cada vez é mais difícil viver em Portugal.
E Avis será a excepção?

domingo, outubro 23, 2005

vida negra - portugal rural (I)

A negridão do país rural passa por indicadores como o índice envelhecimento. Este índice é muito usado pelas pessoas das Estatísticas e representa uma relação entre os idosos – pessoas com 65 e mais anos, e os jovens – indivíduos com menos de 15 anos.
A substância do concelho de Avis em 2001, era esta: para 100 jovens havia 214,8 velhos.
Olhando em redor, pelos concelhos vizinhos, as estatísticas não são diferentes.
Observar estes números, reflectir sobre o seu significado é um exercício angustiante.

sábado, outubro 22, 2005

POLUIÇÃO POLÍTICA

DUAS semanas já se passaram sobre a campanha eleitoral e correspondente acto. 9 de Outubro já foi.
Na próxima semana começam a tomar posse os novos e velhos eleitos.
Não se percebe, portanto, porque esperam os responsáveis políticos, que enxamearam as nossas terras, os espaços públicos, com papelada, pendões, cartazes e fotografias de caras e mais caras, algumas quasi a pedir que alguém as tirasse daquele filme, para procederem à remoção daquelas figuras.
As ditas, caras bem entendido, correm o risco de a pouco e pouco, como que cansados de serem observados a cada esquina, alguém mais afoito lá vá rasgando aqui e acolá as ditas, que não param de nos olhar. Que pensarão os retratados, quando vêem violadas as suas feições?
Hoje, estão ali a fazer o quê? O país desenvolvido que se diz ser, ainda não deu conta desta aberração?
Quando tanto se fala de qualidade ambiental, até quando continuaremos a conviver com esta poluição visual?
Certamente que isto só acontece porque os políticos se vêem como os exclusivos donos da democracia. E como tal, quando entenderem é mandarão proceder à limpeza.
Que tristeza de país!

sexta-feira, outubro 21, 2005

retrato

NÃO terá ainda 50 anos. Mas na sua cara o tempo já deixou um rasto indisfarçável. Profundas e vincadas rugas golpeiam as faces de alto a baixo. A testa, tal como as faces, espelham uma velhice precoce.
Na última vez que o vi negociava a descida de um vão de escadas. Agarrado à parede, curvado sobre si, soltava gemidos cansados. Olhos tristes e vazios recusavam ver o lugar. Semicerrados. Apalpava a descida. No entretanto da hesitação, chupava sofregamente um cigarro, pedido pela careta que para essas ocasiões e naquelas circunstâncias sempre põe, dado e acendido por um qualquer.
Estava só. Como sempre.
A noite caía sobre a Vila e a casa que lhe dá guarida ainda estava longe. Lá, sabemo-lo, espera-o a indiferença e o infortúnio de uma vida que poucos merecem viver.
A valentia desde novo que lhe povoa a imaginação, mas o medo sempre foi mais forte.
No dia seguinte, não faltará ao trabalho. A fome far-lhe-á companhia e na bebida encontrará o alimento.
A Vila continuará a vê-lo passar.

quarta-feira, outubro 19, 2005

trabalho

“QUEM corre por gosto não cansa”! Diz o povo e com razão. O mesmo se poderá dizer de quem trabalha por gosto, parece que não querer outra coisa. Profissionais amantes do seu ofício, como os artistas ou os futebolistas, não querem estar parados. São muitas as vezes a que assistimos as desvairadas reacções de jogadores de futebol aquando das suas substituições! E os artistas, quando podem, trabalham até ao fim da vida, recusando o inevitável.
Uns e outros recusam a reforma. Para eles o trabalho é sinónimo de vida!
Nos antípodes desta postura temos aqueles para quem um dia com menos trabalho é uma bênção dos céus. Esquivam-se ao trabalho e dão graças ao emprego.
Agora que tanto se fala em aumento da idade de reforma, os empregados do Estado recusam essa mudança. Mesmo aqueles que auferem bons vencimentos também não alinham pelas mudanças. E muitos destes até fazem aquilo que gostam, pois exercem as profissões que escolheram. Consentâneas com o seu percurso académico. E são social e economicamente prestigiadas.
Os primeiros são poucos, dos segundos temos milhões.
Se calhar é por isso que Portugal está como está!

abrancoepreto

Será a maneira mais benevolente de ver o nosso país. Portugal.
A nossa terra está doente. Doença crónica. Desde há muito tempo que abusos continuados e remédios fora de prazo vêm atirando, irresponsavelmente, o país para o negrume de um fosso.
Mais algum tempo assim e teremos de riscar o branco deste título.Quem ainda tiver esperança procure uma luz ao fundo... do fosso.